quinta-feira, 6 de maio de 2010

Rasgando meu peito ao meio encontro o coração pulsando, batendo, vermelho. Então, com minhas unhas, entranho o cardíaco e o aperto com toda a força que sai dele. Que sai da minha alma. A raiva que sai da mente. Os pedaços se dissolvem no espaço, eu viro estrela e carne e planeta.
Saio finalmente dessa carcaça e posso ir pra onde der vontade, sem pernas, sem pés, pura poros. Absorvendo tudo. Sendo tudo.
Ah, o vento, as cores, as línguas, a água, a sujeira viscosa e voluptosa da terra, da areia, do roçar com o mar. Sentir o por fora no dentro, e o dentro já junto no por fora, tudo uma coisa só, eu uma coisa só, eu sou o resto e estou em tudo. Sou tudo.

Nas alturas na lava dos vulcões nas placas tectônicas nos peixes a cento e trinta metros de profundidade nos corais esquecidos nas nuvens azuis e nas nuvens cinzentadas nas folhas de papel e nas folhas das árvores nos troncos ancestrais e finalmente eu.
"if I was a photographer,
picture taking,
beautiful people,
I guess I'd make a mistake,
'cause I'd probably take a,
picture of you."

taking people - cat power

quarta-feira, 5 de maio de 2010

"But you're wrong if you think the joy of life comes principally from human relationships. God's placed it all around us. It's in everything. In anything we can experience. People just have to change the way they think about those things.
You ought to put a little camper on the back of your pick-up and go take a look at some of the great work god's done out here in the American west."

Chris McCandless

segunda-feira, 5 de abril de 2010

o domínio sobre si mesmo.

"Eu escolho para ti o domínio sobre ti mesmo, e que a tua mente, agitada por vagos pensamentos, se afirme e se torne convicta, de modo que encontre prazer em si mesma e conheça os bens verdadeiros, aqueles que passam a nos pertencer quando compreendemos quais são, não sendo necessário aumentar o número de anos."
- Sêneca.

segunda-feira, 29 de março de 2010

cecília meireles, cavalos.

eu li hoje um poema lindo da cecília meireles, chamado ""Romance LXXXIV (dos Cavalos da Inconfidência)". estava até dizendo pra um amigo hoje que eu fui obrigada a ler esse livro da cecília, intitulado de romanceiro da inconfidência, e lembro que detestei. ninguém pode obrigar a gente a ler poesia...
hoje li esse poema e fiquei pensando nos cavalos. como eu gosto deles. só lembrava de cavalos assim quando a clarice lispector mencionava...

"Romance LXXXIV (dos Cavalos da Inconfidência)"

Eles eram muitos cavalos, ao longo dessas grandes serras,
de crinas abertas ao vento, a galope entre águas e pedras.
Eles eram muitos cavalos, donos dos ares e das ervas,
com tranqüilos olhos macios, habituados às densas névoas,
aos verdes prados ondulosos, às encostas de árduas arestas,
à cor das auroras nas nuvens, ao tempo de ipês e quaresmas.


Eles eram muitos cavalos
nas margens desses grandes rios
por onde os escravos cantavam
músicas cheias de suspiros.

Eles eram muitos cavalos
e guardavam no fino ouvido
o som das catas e dos cantos,
a voz de amigos e inimigos,
- calados, ao peso da sela,
picados de insetos e espinhos,
desabafando o seu cansaço
em crepusculares relinchos.



Eles eram muitos cavalos,
- rijos, destemidos, velozes -
entre Mariana e Serro Frio,
Vila Rica e Rio das Mortes.

Eles eram muitos cavalos,
transportando no seu galope
coronéis, magistrados, poetas,
furriéis, alferes, sacerdotes.
E ouviam segredos e intrigas,
e sonetos, liras e odes:
testemunhas sem depoimento,
diante de equívocos enormes.



Eles eram muitos cavalos,
entre Mantiqueira e Ouro Branco
desmanchado o xisto nos cascos,
ao sol e à chuva, pelos campos,
levando esperanças, mensagens,
transmitidas de rancho em rancho.

Eles eram muitos cavalos,
entre sonhos e contrabandos,
alheios às paixões dos donos,
pousando os mesmos olhos mansos
nas grotas, repletas de escravos,
nas igrejas, cheias de santos.



Eles eram muitos cavalos:
e uns viram correntes e algemas,
outros, o sangue sobre a forca,
outros, o crime e as recompensas.

Eles eram muitos cavalos:
e alguns foram postos à venda,
outros ficaram nos seus pastos,
e houve uns que, depois da sentença
levaram o Alferes cortado
em braços, pernas e cabeça.
E partiram com sua carga
na mais dolorosa inocência.



Eles eram muitos cavalos.
E morreram por esses montes,
esses campos, esses abismos,
tendo servido a tantos homens.

Eles eram muitos cavalos,
mas ninguém mais sabe os seus nomes
sua pelagem, sua origem...
E iam tão alto, e iam tão longe!
E por eles se suspirava,
consultando o imenso horizonte!
- Morreram seus flancos robustos,
que pareciam de ouro e bronze.



Eles eram muitos cavalos.
E jazem por aí, caídos,
misturados às bravas serras,
misturados ao quartzo e ao xisto,
à frescura aquosa das lapas,
ao verdor do trevo florido.
E nunca pensaram na morte.
E nunca souberam de exílios.

Eles eram muitos cavalos,
cumprindo seu duro serviço.
A cinza de seus cavaleiros
neles aprendeu tempo e ritmo,
e a subir aos picos do mundo...
e a rolar pelos precipícios...

e. e. cummings

tenho lido bastante e. e. cummings nos últimos dias... o renan me mostrou esse poema lindo, que já foi traduzido pelo augusto de campos.

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look will easily unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously)her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully ,suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not even the rain,has such small hands

- - - - -

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

:)

segunda-feira, 22 de março de 2010

obrigada, dias nublados.

no final da dor há uma espécie de paz... uma espécie de calmaria.
não é indiferença. é um céu branco, com tons de cinza, algodão espalhado. e a espera da chuva naquele vento fresco e úmido no rosto.